Uma crítica aos avós da atualidade

Conversando com minha mãe, falávamos sobre o legado que os avós estão deixando aos seus próprios netos. A idéia que fazíamos dos avós de antigamente era aqueles que davam amor, carinho e cuidado. Não tinham nada para dar, mas davam o melhor de tudo – eles mesmos. Acrescentado a isso tinha uma comidinha bem feitinha, recheada de amor e “sazon” e uma família em volta da mesa celebrando a vida de cada um, onde a troca de carinho era o principal motivo de se reunirem.

Hoje, tristemente a realidade não é mais a mesma. O que será que os netos estão associando a imagem dos avós? Avós não são aqueles que devem ser lembrados pelos doces ou presentes. Muito menos a diversão e um dinheirinho quando precisar. Os pratos foram trocados pelos shoppings e o tempo de ensinamento com os netos está sendo substituído pela televisão. Não digo que essas coisas jamais devem ser feitas. As gerações vão mudando e nós temos que mudar junto com elas, mas refiro-me a perder a verdadeira essência que é a troca de afeto que ambos devem nutrir um pelo outro.

Exemplifico essa questão remetendo-me a minha própria vida, onde há uma história de dois paradoxos: Dias atrás lembrava de minha avó paterna e recordava com muita saudade daquela casinha que fazia barulho nos assoalhos quando pisávamos e como éramos crianças, ela nos dava latas para sentar. Tinha lata de tudo quanto é tamanho e era lá que ela guardava o arroz, a farinha e afins. Lembro que ela sentavl a para ver nossos cadernos de aula e que parava para ver as netas apresentando danças infantis. Quanta saudade dos tempos que não voltam mais!

Por outro lado, tive o exemplo do meu avô. Ele era muito querido e admirável, mas eu não tinha vínculo de afeto com ele. Ele estava perto, mas não era próximo. Recordo-me exclusivamente que no dia do Ano Novo ele fazia um churrasco e distribuía um bombom da Garoto para cada neto e claro que eu tentava pegar mais do que um de dentro da caixa. Dias atrás soube que ele estava muito mal de saúde e me impactei com minha indiferença perante a situação. Não porque eu não o ame, mas simplesmente porque não desenvolvemos um laço de afeto verdadeiro. E não parecia que isso vinha de uma neta.

Foi vivendo isso, que convido aos avós da atualidade a repensarem aquilo que querem realmente deixar aos seus netos. Eles não querem dinheiro, doces ou diversão o tempo todo. Muitas vezes o que eles mais buscam é vocês mesmos, na mais pura essência e sem nada de mais para oferecer…. simplesmente eles querem seu tempo, sua atenção e você como o melhor dos presentes.

Antigamente os avós se preocupavam em deixar ensinamentos e por isso era comum ouvir: “Meu avô me ensinou uma grande lição – a de que eu sempre devo honrar meus compromissos”. Infelizmente hoje me parece que a palavra “ensinamento” ficou fora do vocabulário dos avós. As pessoas tem dito tanto “eu já criei os meus filhos e agora não preciso dar limites”, que de uma brincadeira coloquial, passou a ser um valor cultural. De fato os avós não precisam se focar nos limites, mas também não devem confundi-los com os ensinamentos.  

Faça-se próximo! Crie e seja o laço que a vida e o tempo não desfaz mais!

Deixe sua marca, mas que ela não seja a marca de brinquedos ou de coisas, mas que você possa lhe ofertar o mais precioso de você, porque isso ele levará para a vida.

(É por essas e outras razões que não posso deixar de agradecer aos meus sogros e aos meus pais, pelo verdadeiro amor e carinho que eles tem dado a minha filha. Eles me ensinam a ser avó quando fazem isso).

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