perdas

Ao longo de nossa vida passamos necessariamente por diversas perdas, sejam elas emocionais ou materiais e para sofrermos menos com esses momentos, é preciso compreender melhor a verdadeira causa da dor.

Toda dor da perda não advém absolutamente da perda em si, mas o que realmente causa dor dentro de nós é o nosso apego que temos em relação aquilo. Quanto mais apegados a algo, maior é o sofrimento, pois a dor da perda é proporcional ao tamanho do apego.

Todos nós temos apego em maior ou menor intensidade por algo, mas não podemos deixar com que esta seja a causa da nossa infelicidade. Se uma mãe é muito apegada aos objetos da sala de estar de uma casa, por exemplo, ela pode impedir que seus filhos possam usufruir do espaço necessário para brincar. Se uma pessoa for muito apegada a beleza e ao corpo, terá mais dificuldades de encarar a terceira idade onde a vaidade não é mais uma prioridade e isso é resultado do nosso apego.

Há aqueles que se apegam aos bens materiais e na eventualidade de sua perda ou destruição é como se perdessem a própria motivação de viver. Há também quem se apega desesperadamente a sua profissão ou status e qualquer sinal de perda nesta área, os deixam verdadeiramente deprimidos.

Mas o apego mais notável é aquele que se tem por alguém. Embora tão ou mais importante que os anteriores, com muita freqüência aquilo que tem a aparência de um grande amor é, na verdade, um disfarçado sentimento de apego e isso é lindo.

Há, no entanto, o apego bom e o apego ruim. O bom é aquele direcionado a alguém que você ama e o ruim é quando você transforma apego em posse. Apego que se iguala ao amor real (e não a posse) é aquele capaz de soltar, jamais de prender. Somente assim se estará verdadeiramente bem com o outro e se ele se for, a dor vêm mas a pessoa se recupera, porque o vazio foi ocupado pela certeza de um amor verdadeiramente vivido.

Mas isso não ocorre quando confundimos amor com possessividade. Alías, não é a toa que usamos tanto o pronome possessivo em nossas frases. Quem é dominado pela posse, tem dificuldade em entender o que é amar, além de interpretar qualquer atitude como desvalorização ou desinteresse. É claro que ninguém gosta de perder, mas quanto mais imaturo for a pessoa, mais tendência terá de construir relacionamentos baseado na posse.

É por isso que precisamos ser intensos no ato de amar e não perder tempo com pormenores. A posse é um sentimento egoísta que visa o bem estar próprio e não do outro e nem da relação.

E honestamente: Não dá para viver assim. Viver com o mal apego, sem a alegria estampada no rosto que é tudo o que mais merecemos e sermos enganados pelo egoísmo inútil de uma relação de posses.

Temos compromisso com a felicidade e quanto mais nos apegamos aquilo que é bom, menos tempo teremos para nos desapegar do que é ruim.

A dor provocada pela morte

Karine Rizzardi

Todos nós começamos morrer, no exato dia em que nascemos.

Quando perdemos alguém, sentimos medo de perder tudo – medo de perder outras pessoas, medo de perder a alegria, sem contar que temos que sentir o peso não só da morte, mas arcar com a falta da esperança, da expectativa, da tranquilidade, bem como a morte dos próprios sonhos.

Pouco se comenta sobre o que se deve evitar quando perdemos alguém e pensando nisto, resolvi selecionar alguns comportamentos mais comuns nas reações dos familiares, que precisam ser observados para que não ocorram:

– NÃO TOME CALMANTES OU ANESTÉSICOS: Por mais que o choque emocional seja cavalar, o uso de calmantes só é indicado para quem tem problemas cardíacos. Calmantes melhoram o nervosismo e anestesiam momentaneamente a dor, mas a perda de alguém só pode ser resolvido com a adaptação da própria falta, que leva uma média de dois anos.

– EVITE VESTIR A “MÁSCARA DE FORTÃO”: Quem procura disfarçar sua dor como se fosse um botox existencial, pode correr sérios riscos em parecer bem adaptado durante seis meses, mas após esse tempo, se não encarar a dor de frente, tem grandes chances de desenvolver depressão ou outras doenças.

– NÃO AJA COMO SE NADA TIVESSE ACONTECIDO: Quanto menos você compartilha sua dor, mais insuportável ela se torna. É terapêutico recordar e falar sobre as lembranças, conquistas, tristezas e a vida da pessoa que se foi. Algumas pessoas deixam de falar sobre o falecido, como se assim pudessem banir a dor de dentro do peito ou na tentativa de não machucar os outros. Isso é mito.

– CUIDADO COM OUTROS SINTOMAS: Indícios de abuso de drogas, álcool, rebeldia, ansiedade, fobias, compulsões, conflitos, separações e depressão, são apenas alguns dos sintomas que se manifestam de seis a dezoito meses após o período da morte. Esses comportamentos são sinalizadores do luto mal resolvido e escondem um pedido urgente de auxílio terapêutico ou até psiquiátrico.

– O TEMPO PÁRA: Outro sinônimo de falta de preparo quanto a dor da morte, é transformar o quarto da pessoa em um memorial. Continuar a comprar roupas ou colocar pratos da mesa como se a pessoa ainda estivesse viva, se recusar mudar a decoração ou os lugares onde possuíam as características pessoais de quem morreu. Mas atenção! Fazer isso no tempo de até 18 meses após o falecimento é bom e recomendável, mas após dois anos, já denota atraso.

– APARECIMENTO DE SINTOMAS SEMELHANTES A DO FALECIDO: Para muitas pessoas que já desistiram de viver ou que já pararam de lutar para se recompor, não se dão conta que começam a ficar com sintomas iguais ao falecido, como é o caso de morte por doenças (câncer, dores no coração…). Essas pessoas ficam engessadas em suas dores e falam do ente falecido no tempo presente, mesmo já tendo passado três, quatro ou cinco anos da morte: “O João sempre me traz presentes!” (Ao invés de “trazia”) ou “A Nina vive sorrindo!” (Ao invés de “vivia”).

Infelizmente, a morte não oferta segunda chance. Toda adaptação a respeito da perda é dolorosa. Nesses casos, os dias parecem cinzas e a vida se transforma em preto e branco. Mesmo assim, o ser humano tem uma capacidade inigualável de se psicoadaptar com as circunstâncias e o mais importante a ser feito, é ter paciência para que o tempo auxilie na diminuição da dor.

A autora é psicóloga especialista em casais e família

(45) 3224-4365

drakarinerizzardi@gmail.com

 

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