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A dor provocada pela morte

Karine Rizzardi

Todos nós começamos morrer, no exato dia em que nascemos.

Quando perdemos alguém, sentimos medo de perder tudo – medo de perder outras pessoas, medo de perder a alegria, sem contar que temos que sentir o peso não só da morte, mas arcar com a falta da esperança, da expectativa, da tranquilidade, bem como a morte dos próprios sonhos.

Pouco se comenta sobre o que se deve evitar quando perdemos alguém e pensando nisto, resolvi selecionar alguns comportamentos mais comuns nas reações dos familiares, que precisam ser observados para que não ocorram:

– NÃO TOME CALMANTES OU ANESTÉSICOS: Por mais que o choque emocional seja cavalar, o uso de calmantes só é indicado para quem tem problemas cardíacos. Calmantes melhoram o nervosismo e anestesiam momentaneamente a dor, mas a perda de alguém só pode ser resolvido com a adaptação da própria falta, que leva uma média de dois anos.

– EVITE VESTIR A “MÁSCARA DE FORTÃO”: Quem procura disfarçar sua dor como se fosse um botox existencial, pode correr sérios riscos em parecer bem adaptado durante seis meses, mas após esse tempo, se não encarar a dor de frente, tem grandes chances de desenvolver depressão ou outras doenças.

– NÃO AJA COMO SE NADA TIVESSE ACONTECIDO: Quanto menos você compartilha sua dor, mais insuportável ela se torna. É terapêutico recordar e falar sobre as lembranças, conquistas, tristezas e a vida da pessoa que se foi. Algumas pessoas deixam de falar sobre o falecido, como se assim pudessem banir a dor de dentro do peito ou na tentativa de não machucar os outros. Isso é mito.

– CUIDADO COM OUTROS SINTOMAS: Indícios de abuso de drogas, álcool, rebeldia, ansiedade, fobias, compulsões, conflitos, separações e depressão, são apenas alguns dos sintomas que se manifestam de seis a dezoito meses após o período da morte. Esses comportamentos são sinalizadores do luto mal resolvido e escondem um pedido urgente de auxílio terapêutico ou até psiquiátrico.

– O TEMPO PÁRA: Outro sinônimo de falta de preparo quanto a dor da morte, é transformar o quarto da pessoa em um memorial. Continuar a comprar roupas ou colocar pratos da mesa como se a pessoa ainda estivesse viva, se recusar mudar a decoração ou os lugares onde possuíam as características pessoais de quem morreu. Mas atenção! Fazer isso no tempo de até 18 meses após o falecimento é bom e recomendável, mas após dois anos, já denota atraso.

– APARECIMENTO DE SINTOMAS SEMELHANTES A DO FALECIDO: Para muitas pessoas que já desistiram de viver ou que já pararam de lutar para se recompor, não se dão conta que começam a ficar com sintomas iguais ao falecido, como é o caso de morte por doenças (câncer, dores no coração…). Essas pessoas ficam engessadas em suas dores e falam do ente falecido no tempo presente, mesmo já tendo passado três, quatro ou cinco anos da morte: “O João sempre me traz presentes!” (Ao invés de “trazia”) ou “A Nina vive sorrindo!” (Ao invés de “vivia”).

Infelizmente, a morte não oferta segunda chance. Toda adaptação a respeito da perda é dolorosa. Nesses casos, os dias parecem cinzas e a vida se transforma em preto e branco. Mesmo assim, o ser humano tem uma capacidade inigualável de se psicoadaptar com as circunstâncias e o mais importante a ser feito, é ter paciência para que o tempo auxilie na diminuição da dor.

A autora é psicóloga especialista em casais e família

(45) 3224-4365

drakarinerizzardi@gmail.com

 

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