discussão

Renato e Roberta estão discutindo a relação. Ela está furiosa porque ele fez algo que a magoou e ele por sua vez, também está bravo devido a reação inadequada dela de te-lo exposto. Eles estão exacerbados em suas emoções, até que um deles se cala, diz que não dá mais para continuar a conversa, até que o casal passa quatro dias sem conversar e sem trocar olhares. Resultado: Ambos emburrados, conversa não resolvida e um muro de silêncio afastando um do outro.

Muitos casais acham que o silêncio pode auxiliar nas brigas conjugais. Algumas pessoas chegam até a dizer que “ficar quieto” ajuda o casal a se acalmar. De fato, há casos em que dar um tempo para os ânimos abaixarem é excelente, mas não quer dizer que não tenhamos que voltar no assunto da briga mais tarde.

Entre os infinitos rumos que o silêncio pode levar a relação, há um deles que pode ser venenoso e destrutivo para o casal: É quando as pessoas usam o silêncio como instrumento de poder e de controle sobre o outro.

Analise esses dois exemplos abaixo:

O casal A se dá muito bem, mas como todos os casais, sofrem um episódios curtos de conflitos. O marido chega em casa nervoso do trabalho, justamente no dia em que a mulher está na TPM. Ele resolve meter a boca nas coisas que ela está fazendo, porque ela não está controlando o gasto do mercado e as luzes da casa vivem acesas, sem ela conferir se os filhos estão ou não cuidando do consumo excessivo. Ela ouve as reclamações, fica quieta, desliga as luzes da casa e vai preparar a janta para as crianças. Esse é um exemplo onde você percebe que o silêncio é construtivo e conveniente, pois a esposa já entendeu que o marido está nervoso com alguma coisa do trabalho e “ficar em silêncio” fará naturalmente com que ele se acalme.

Já o casal B entra em conflito por que ele a tratou mal na frente dos amigos. Ele justifica, tentando provar que não fez nada de mais e ela se irrita tanto que o chinga. Ele irredutível, fica bravo e se nega a conversar, bantendo a porta do quarto. Ambos ficam sem se falar e quando ela tenta novamente conversar com ele, ele finge que não está escutando, como forma de provar que está certo. Esse sim, é um exemplo onde o silencio é nocivo e tóxico para a relação, porque o casal não resolveu o problema e o silêncio foi utilizado como arma para se ter o controle da situação.

Se o casal não cuida, o silêncio vai formando um muro tão grosso entre eles, que a relação vai esfriando e ambos começam a ficar distantes, sempre esperando que o outro mude, mas eles mesmos não fazem nada para mudar. É a sua mudança que fará com que o outro mude.

Não pense em continuar se utilizando do silêncio para ganhar uma briga só porque dá certo hoje, pois chegará o momento em que o outro também passará a agir assim e você não irá gostar de sofrer essas conseqüências, ou vai?

Todo mundo sabe que não é bom viver um clima pesado dentro de casa e pior ainda é quando o casal briga na frente dos filhos. Eu já falei isso em outras colunas, mas os pais não imaginam o estrago que fazem quando colocam seus próprios filhos envolvidos em seus conflitos pessoais. Há até aqueles que agem pedindo conselhos e outros ficam incansavelmente desfazendo da figura do(a) esposo(a), como se o filho fosse apenas um amigo com quem você estivesse contando uma briga.

Ocorre duas coisas quando os filhos se envolvem nos contextos das brigas conjugais: Uma delas é que o filho começa a se sentir a vontade de opinar sobre o que um deve ou não fazer (isso não é nada bom) e a outra atitude é que o filho começa a se sentir responsável pela felicidade dos pais, como se ele mesmo tivesse que salva-los dos desentendimentos e se ele não conseguir, começa pensar que ele é um fracassado.

Conseqüências desse mal? A pior de todas elas é que este filho crescerá com a idéia de querer salvar o mundo. Você pode me perguntar: Mas desde quando isso é um problema, Karine?

Eu lhe digo sem medo de errar, que o filho que se acostuma viver em ambientes familiares conflituosos, tende a se envolver afetivamente com uma pessoa que sempre terá motivos para brigar e/ou que precisará de cuidados emocionais. Um exemplo disso é quando há um pai dependente de álcool e uma filha que está sempre envolvida nessas confusões. Quando ela cresce, ela tem fortes tendências de se atrair por um “homem- problema”, que se duvidar também é dependente de álcool. Isso se justifica porque a filha cresceu tendo que corrigir, ajudar e aceitar o que o pai fazia e quando se torna adulta, ela sente necessidade de também ajudar, cuidar e aceitar uma outra pessoa problemática, pois aprendeu a conviver no meio do conflito.

Para esta criança, viver em clima harmonioso e pacífico é um pouco estranho e a pessoa não consegue se sentir a vontade. Sem perceber, ela mesmo acaba produzindo brigas, pois foi assim que ela foi criada. Alguns passam até a “achar chifre na cabeça do cavalo” com outras pessoas que convive, porque foi assim que ela foi acostumada a viver. Isso a afasta cada vez mais de se sentir feliz, pois terá sempre ao seu redor, pessoas que precisem ser dependentes delas.

Existe coisa pior do que você ver seus próprios filhos sendo escravos de algo que você mesmo causou? É por isso que briga de marido e mulher deve ficar dentro de quatro paredes. Há casais que buscam alternativas que não desrespeitem os filhos: Uns saem para conversar dentro do carro, outros vão para o quarto e se fecham e há terceiros que tentam falar baixinho para que os filhos não escutem a conversa.

Ressalto que não há nenhum mal dos filhos saberem que há dias onde o pai e a mãe não estarão bem um com o outro, mas quando isso se torna um padrão constante, aí sim, os pais estão favorecendo para que o filho ter problemas.

Muitos pais ainda dizem: “Mas nós já brigamos tantas vezes na frente deles, que agora é tarde para mudar.” Eu digo para você que jamais é tarde para desfazer um erro. Se você tem sequer “um pingo” de amor pelos seus filhos, tentará priva-los de viver em ambientes ácidos, porque problemas de casais não tem nada a ver com os filhos. Aprender separar o “feijão do arroz” é o mínimo que podemos fazer quando o assunto é amar e ter o respeito por eles.

Encontro seguidamente nos casais, relacionamentos afetivos que são carregados de extremos entre o amor e o ódio, onde estranhamente isso é visto como expressão de afeto.

Muitos casais que não percebem que tem essa dinâmica, possuem um relacionamento intenso, onde se constata a existência de muito amor da parte dos envolvidos, mas proporcionalmente a esse sentimento vibrante de afeto, encontra-se outro igualmente forte que é um ódio avassalador que se manifesta quando um dos dois, não satisfaz os desejos que o outro esperava.

Um exemplo típico onde isso acontece, é quando o cônjuge é visto como ótimo em todos os aspectos e este só é considerado “o parceiro ideal”, desde que o outro concorde com tudo o que ele disser, desde que ele(a) aceite somente os programas que ele(a) inventa e desde que a pessoa satisfaça todas as suas necessidades, sem nem um chance de dizer não. Convenhamos: Qualquer pessoa é um amor até o momento em que suas vontades são contrariadas.

A pessoa que possui um bom amadurecimento emocional é aquela capaz de saber lidar com as diferenças de opiniões e que aceita algumas diferenças de atitudes do outro.

Quando uma pessoa quer exigir que o outro se comporte de tal ou tal maneira, que fica emburrada quando algo não sai como imaginava ou quando fica furioso(a) quando o cônjuge pensa diferente de como ele(a) queria, é o tipo de pessoa que precisa se reciclar em suas percepções, pois certamente estará caminhando para viver uma relação eterna de amor e ódio que desgastará muito a relação a dois.

Um exemplo disso, é quando a parceira não é independente financeiramente e seu relacionamento conjugal é ótimo até o dia em que ela resolve procurar um emprego ou se envolve em alguma atividade que lhe ofereça uma identidade como pessoa. Aí o jogo de acusações e agressões verbais começa, porque esse marido não suportaria vê-la se desenvolvendo em alguma outra área que não seja o ato de cuidar da família. Outro exemplo é quando a esposa é boa, somente até o momento em que o marido discorda dela por alguma razão. Isso a faz jogar toda sua insatisfação sobre ele, como se coubesse somente a ele o sucesso da relação, deixando-o sufocado em seus sentimentos. Exemplos assim mostram que com o passar dos anos, esses casais passam a viver de forma distante e fria, tendo por trás dessa posição, muita raiva, ódio e posse (menos o ato de amar genuíno).

Isso é um padrão altamente disfuncional e egoísta de ambas as partes. Quando nos relacionamos com alguém, precisamos entender que em algum momento essa pessoa discordará de nossas idéias e que isso não os torna criminosos por pensar diferente. O ser humano quer tanto viver uma vida perfeita na área afetiva, que não dá margem para os erros que podem e devem ser cometidos ao longo da caminhada a dois.

Que arrogância extrema tem a pessoa que quer exigir que o outro se comporte sempre como ele(a) deseja, se nem a própria pessoa é perfeita para saber lidar com suas emoções.

Pessoas com boa auto estima, sentem condições de amar verdadeiramente o outro, apesar de suas limitações e, desde cedo, entendem que amar está muito acima de controlar ou de satisfazer seu próprio ego… amar é uma permissão para que o outro colabore com o meu crescimento, mesmo que isso seja a custa de ouvir alguns “Nãos”.

Não agüento mais discutir!

Karine Rizzardi

Quando começo a escrever algumas matérias que considero especiais, ocorre um brainstorming de idéias que parecem não caber em apenas um espaço do papel. Como o mundo prático de hoje não nos permite sermos prolixos, muitas vezes sou obrigada ter que resumir em técnicas e estratégias de aconselhamento, mesmo sabendo que a diversidade do ser humano jamais nos deixaria reduzí-lo desta forma. “Como posso querer ficar tão longe dessas estratégias “fast-answer”, se quando eu menos percebo, estou tendo que escrever textos que se resumem exclusivamente em respostas prontas que não são tão prontas assim?

Por mais paradoxal que isso seja, há algumas regras que norteiam os relacionamentos e há algumas “estratégias” (de novo – elas não largam do meu pé), que se referem a relatos que as pessoas se esquecem de praticar nos momentos de uma discussão, independente se esta for afetiva, familiar ou profissional.

Quando o assunto é briga, o que estraga demais os relacionamentos é fazer uso direto da crítica. Se você quer ter resultados eficazes em uma briga a dois, é obrigatoriamente necessário aprender a fazer queixas e não críticas. Quando você diz:

– Você é estressado, nervoso e não agüento mais esse seu jeito de achar que sempre está certo!

Neste caso você está fazendo uma crítica. Quando você diz, apenas:

– Me senti mal com sua forma de agir e gostaria que pudesse cuidar mais com sua forma de se expressar, para que possamos brigar menos! Isso sim, é uma queixa.

Quando uma pessoa procura fazer a queixa e não criticar ao outro, esta faz referência ao comportamento e não da forma de ser da pessoa. “Você se comportou…..” e não “Você é assim…..” A queixa não atinge o ego da pessoa, e faz o outro ficar mais receptivo para conversas e menos defensivo na discussão. É importante que nós ataquemos o problema e não a pessoa em si, se você quiser ter resultados eficazes.

Comunicação com qualidade, é ter a língua sob controle.

Outro fator importante (mas aparentemente insignificante) é o uso do silêncio. Evite pensar que o silêncio resolverá seus problemas. Eles são excelentes em momentos específicos, porém, jamais resolverão um problema propriamente dito.

Quando assisto a filmes, sempre observo algo que me chama atenção na briga de casais, quando um diz: “Você SEMPRE me trata assim!” ou “O que aconteceu que você vai me levar para jantar, pois você NUNCA faz isso!”, mas será que as palavras “sempre” e “nunca” são realmente verídicas? É impossível alguém casado NUNCA ter levado o outro para jantar, ou mesmo, é pouco provável que uma pessoa se comporte SEMPRE da mesma forma com a outra, sem ter nenhuma oscilação de humor.

O ser humano não “é”, ele apenas se comporta!  Muitos casais, se fixam na parte ruim do outro ou naquilo que ele(a) deixou a desejar, ignorando os momentos bons que passaram juntos, mas se você analisar a fala das pessoas em uma discussão, soa como se “NUNCA” houvesse bons momentos e isso é uma inverdade.

Registre isso na sua mente: Nas discussões, evite dizer “nunca” ou “sempre”, lembre-se que ficar “de bico fechado” não resolverá seus problemas e faça queixas ao invés de críticas.

Mesmo estas sendo algumas técnicas resumidas, aproveite pelo menos uma para que suas discussões sejam mais eficazes, porque brigar machuca e pode deixar feridas abertas difíceis de serem saradas!

A autora é psicóloga especialista em casais e família

(45) 3224-4365

drakarinerizzardi@gmail.com

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