O vazio pode ser uma ótima forma de se encontrar

Nossas mentes estão cristalizadas. Com o acúmulo de coisas para fazer e uma agenda lotada para cumprir, muitos de nós não param mais para pensar sobre a vida, nos relacionamentos, na maneira que se estão criando os filhos e até mesmo nos próprios objetivos. Muitos estão parecendo personagens daquele filme “Tempos Modernos”, de Charlin Chaplin, onde ele age como se tivesse ligado no automático, repetindo a mesma rotina e a mesma forma de pensar todos os dias, horas e minutos, sem fazer nada de diferente.

Mas será que esse montante de afazeres não está camuflando algumas falhas nossas que não estamos querendo ver? As vezes é mais “fácil” chegar em casa e ficar entretido na televisão até mais tarde do que falar sobre o que incomoda no seu relacionamento afetivo. Outras vezes é mais cômodo encher os filhos de atividades para eles se ocuparem, para não interromperem seus próprios compromissos. A verdade é que nunca estivemos tão ocupados, mas ao mesmo tempo tão sós nos próprios pensamentos.

As pessoas chegam no fim de semana e algumas se encharcam de coisas para fazer ( em casa ou fora dela) porque para alguns é errado ficar de perna para o ar e não fazer nada, pois caso contrário entrarão em contato com um vazio existencial horrível. Infelizmente o que está acontecendo é que quanto menos as pessoas descansam suas mentes, mais tendência ao vazio elas terão. A maioria delas só se dá conta disso quando se depara com o “nada”. Lembro-me de um homem que estava fazendo um cruzeiro pela Europa e tinha um determinado dia que o navio iria navegar 24 horas sem parar em nenhum destino. Aquele homem, que sempre precisa estar ocupado e com compromissos, comentou: “Mas que saco. Vamos ficar aqui o dia inteiro sem fazer nada?” Olha que curioso: Ele poderia fazer muitas coisas, tais como curtir momentos com a esposa, aproveitar a piscina com os filhos, dormir até um pouco mais tarde ou até mesmo ficar olhando o mar e pensar sobre a vida e seus anseios…. mas não dá….como ele não fazia isso em sua rotina diária, fazer isso agora soa como “algo sem graça”. Muitos casais que não tem hábito de conversar, as vezes saem para jantar e não tem assunto (exceto se estão com mais pessoas), outros não tem aproximação verdadeira com os filhos e se saem sozinhos não tem muito o que falar exceto de coisas triviais. Isso é uma pena, porque o encontrar-se no “nada” gera muitos benefícios:

– É no vazio existencial que podemos nos rever e mudar algumas coisas que não estão boas na nossa vida.

– Imagine um vaso de flores. Se ele está cheio, você não consegue colocar mais coisas dentro porque seu tamanho não vai comporta-lo. Nossa mente é igual. É só quando nos esvaziamos de nós mesmos é que podemos escolher o que colocar e o que tirar de nossas vidas. É por isso que ficar em silêncio ou parado (como faziam os antigos quando chegavam em casa e deitavam na rede ou ficavam na varanda conversando) é excelente para saúde mental e emocional.

Explore seus momentos – seja no carro, em casa enquanto faz algo ou até mesmo no banho. É só com esses momentos que podemos nos reinventar, nos remodelar e nos reciclar. Saiba aproveitar o lado doce do vazio, para que você não tenha que se encontrar o com amargo de sua companhia depois.

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