Como pode após quase duas décadas juntos, o meu amor estar tão forte por você. Achei que esse sentimento ia diminuindo com o tempo e com os afazeres do dia. Pensei que os olhos seriam impedidos de se encontrar e as sensações boas perderiam a força. Como é bom estar errado e perceber que isso não aconteceu.
Dias atrás houve um desentendimento. Bobo e desnecessário, mas tenho que admitir que foi aí que comecei a fazer algo: Passei a te olhar com olhar de quando namorávamos. Fiquei te observando como alguém que olha outrem de fora (igual aquela adolescente que fica acompanhando cada gesto do seu paquera na escola). De dentro do carro, fiquei admirando seu jeito na hora de pagar a conta do posto de gasolina e outro dia, também fiquei analisando seu jeito ao conversar com seus amigos e eu pensava: “Que lindo ele é! Aquele jeito de colocar a mão no bolso é um charme.” Sua tranqüilidade me acalma e sua segurança me faz sentir protegida. Mesmo no meio do desentendimento, devo admitir que fiquei te espiando através da tela do computador, enquanto fingia que trabalhava. Eu via o reflexo do seu rosto atrás de mim e pensava: “Como pode eu me sentir completamente envolvida por ele depois de tantos anos juntos. Eu tenho uma convicção dentro de mim que o que sinto é de fato, um amor real. Tão real que você não sabe, mas eu estava acordada na hora que você me deu um beijo enquanto eu ficava de olhos fechados na cama e eu também vi que você se emocionou ao ouvir Roberto Carlos no carro enquanto viajávamos.
Por milésimos de segundos eu pensei: “Parece até que estou boba!” “Eu tenho que cair na real”, mas não… essa era a minha realidade do momento e eu queria agarra-la para não deixar sair. Momentos pelos quais senti que o tempo não envelheceu nada do que sinto. Eu sabia que já estava casada, com filhas, uma agenda lotada e compromissos a cumprir, mas ao mesmo tempo, parecia que nada disso foi impedimento de te amar. Olhando para trás, acredito que tudo isso não ocorreu só porque você é interessante. Foi porque você soube cativar o meu amor. Você me cuida e tenta me proteger das situações difíceis. Você faz coisas que o tempo não vai apagar, pois suas renúncias carimbam o meu carinho. Nada me fará esquecer você levantando de madrugada, cansado e desnorteado, mas dando seu melhor para atender as crianças e tentar me deixar dormir enquanto eu ainda estava grávida. Mesmo eu sabendo que você tinha que ir trabalhar no outro dia, lá estava você, com paciência e cuidado, tentando cuidar de toda nossa família. Eu sei que quando te peço alguma coisa, por mais que não dê certo, você faz de tudo para me agradar. Eu sei que você sempre reflete sobre como pode ser melhor para nós.
Mesmo quando um acha o outro chato, é porque são só ajustes a serem feitos. Mesmo quando há desentendimentos, eu penso: “Eu não posso me basear em uma chateação somente, pois no resto do tempo, ele é muito diferente”. Eu não gosto de escrever sobre nós, porque acho isso muito particular. Mas confesso que dessa vez eu não consegui evitar. Conforme escrito acima, achei que esse sentimento ia diminuindo conforme se constrói uma vida a dois, mas como você diz: “Nós fazemos nossas próprias regras – regras diferentes do mundo”.
Só sei que amo você. Não digo isso como adolescente que se baseia no impulso de frases coloquiais, mas mais do que pensar… eu sinto.