Família não acontece sem esforço

Recordei-me dias atrás, de quando nasceu minha segunda filha. Isso me possibilitou a ficar em casa e dar o melhor de mim na atenção para ela e para a primogênita (antes de vir a terceira, que também era desejada). Quando não estava com uma, ficava brincando com a outra e esses momentos me renderam um brilhantismo sem igual. Muitas vezes me sintia como se eu quisesse parar aquele tempo e não sair mais dele porque os momentos de me interiorizar e analisar a vida me rendiam a graça de perceber o que verdadeiramente importa. Lembro de me pegar chorando várias vezes por agradecer estes momentos que nunca mais voltarão e nenhum dinheiro que eu ganhasse com o meu trabalho pagaria a satisfação nos olhos do meu marido.

Foi pensando nessas coisas que vi como os filhos são instrumentos que Deus usa para transformar a vida dos pais. Nós só precisamos estar atentos a perceber isso, pois eles podem trazer respostas e até soluções das situações do dia a dia. A pessoa que ignorar a sapiência que podemos extrair de uma criança, provavelmente deve estar tão vinculada ao mundo que se cega para a riqueza que mora dentro delas.

Conforme diz Elton Trueblood, a família é o nosso melhor ideal de vida, mas não acontece sem esforço. Sei que muitas vezes nós queremos fazer outras coisas, mas o tempo que devemos nos dedicar a eles é realmente válido e será temporário porque daqui um pouco eles já cresceram e estão com suas próprias vidas (por isso que devemos aproveitar cada instante). Dias atrás eu tentei por quatro vezes fracassadas começar a escrever essa coluna, mas não pude devido a atenção que deveria dar a elas. Dentro de mim, eu pensei: “Que saco, eu queria terminar meus afazeres”, mas tenho deixado minhas necessidades egoístas de lado e cedido ao fato de ter tempo com elas. Não imaginava que teria tantos benefícios.

Hoje com as três filhas tecendo os laços da minha família, relembrei que uma delas me ensinou a comer. Parece bobeira, mas se prestar atenção aos detalhes, tudo se torna um ensinamento. Ela leva 40 minutos comendo um pão de queijo que degusta cada pedacinho, coisa que talvez eu não teria parado para aprender se não tivesse prestado atenção (tudo bem que pão de queijo resbala nos cantos do sofá, raspa na porta, deixando gordura, etc…) Hoje em dia nós comemos tudo com pressa e isto foi uma lição para mim. Outro aprendizado é de me dar pequenos direitos de uma criança no dia a dia. Parece até redundância, mas ficamos tão “compromissados com nossos compromissos”, que pouco nos damos o direito de curtir realmente os momentos, que são simples, mas singulares. Seu filho não quer saber se você trabalhou ou está cansado – ele só quer você para ele e mesmo que isso te desgaste, pode apostar que te trará saudades um dia.

Relembrei da fase de amamentação, mas na verdade é eu que fui amamentada e nutrida pelos momentos que tive quando parei tudo o que “achava” que seria importante e me doei verdadeiramente a elas. Não escrevo isso para contar minha vida, mas escrevo com a motivação de estimular você a prestar atenção no que seus próprios filhos querem te ensinar. Quando nasce um filho, nossas vaidades se dissipam e ficamos realmente abertos a entender que chegará a época que não teremos mais controle sobre eles, mas poderemos deixar um legado de influências. Certamente não será importante se eu escrevi uma coluna a mais ou a menos, mas será realmente salutar eu ter me desprendido para brincar de chazinho com ela em sua mesinha pequena que mal cabe o meu traseiro. Lembre-se da frase de Trueblood: “Família não acontece sem esforço.”

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