Entre o amor e o ódio

Encontro seguidamente nos casais, relacionamentos afetivos que são carregados de extremos entre o amor e o ódio, onde estranhamente isso é visto como expressão de afeto.

Muitos casais que não percebem que tem essa dinâmica, possuem um relacionamento intenso, onde se constata a existência de muito amor da parte dos envolvidos, mas proporcionalmente a esse sentimento vibrante de afeto, encontra-se outro igualmente forte que é um ódio avassalador que se manifesta quando um dos dois, não satisfaz os desejos que o outro esperava.

Um exemplo típico onde isso acontece, é quando o cônjuge é visto como ótimo em todos os aspectos e este só é considerado “o parceiro ideal”, desde que o outro concorde com tudo o que ele disser, desde que ele(a) aceite somente os programas que ele(a) inventa e desde que a pessoa satisfaça todas as suas necessidades, sem nem um chance de dizer não. Convenhamos: Qualquer pessoa é um amor até o momento em que suas vontades são contrariadas.

A pessoa que possui um bom amadurecimento emocional é aquela capaz de saber lidar com as diferenças de opiniões e que aceita algumas diferenças de atitudes do outro.

Quando uma pessoa quer exigir que o outro se comporte de tal ou tal maneira, que fica emburrada quando algo não sai como imaginava ou quando fica furioso(a) quando o cônjuge pensa diferente de como ele(a) queria, é o tipo de pessoa que precisa se reciclar em suas percepções, pois certamente estará caminhando para viver uma relação eterna de amor e ódio que desgastará muito a relação a dois.

Um exemplo disso, é quando a parceira não é independente financeiramente e seu relacionamento conjugal é ótimo até o dia em que ela resolve procurar um emprego ou se envolve em alguma atividade que lhe ofereça uma identidade como pessoa. Aí o jogo de acusações e agressões verbais começa, porque esse marido não suportaria vê-la se desenvolvendo em alguma outra área que não seja o ato de cuidar da família. Outro exemplo é quando a esposa é boa, somente até o momento em que o marido discorda dela por alguma razão. Isso a faz jogar toda sua insatisfação sobre ele, como se coubesse somente a ele o sucesso da relação, deixando-o sufocado em seus sentimentos. Exemplos assim mostram que com o passar dos anos, esses casais passam a viver de forma distante e fria, tendo por trás dessa posição, muita raiva, ódio e posse (menos o ato de amar genuíno).

Isso é um padrão altamente disfuncional e egoísta de ambas as partes. Quando nos relacionamos com alguém, precisamos entender que em algum momento essa pessoa discordará de nossas idéias e que isso não os torna criminosos por pensar diferente. O ser humano quer tanto viver uma vida perfeita na área afetiva, que não dá margem para os erros que podem e devem ser cometidos ao longo da caminhada a dois.

Que arrogância extrema tem a pessoa que quer exigir que o outro se comporte sempre como ele(a) deseja, se nem a própria pessoa é perfeita para saber lidar com suas emoções.

Pessoas com boa auto estima, sentem condições de amar verdadeiramente o outro, apesar de suas limitações e, desde cedo, entendem que amar está muito acima de controlar ou de satisfazer seu próprio ego… amar é uma permissão para que o outro colabore com o meu crescimento, mesmo que isso seja a custa de ouvir alguns “Nãos”.

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