Por que casais que se dão bem afetivamente e se amam, mas acabam perdendo o interesse pelo sexo e ficam como amigos, como irmãos e tem dificuldade de resgatar a antiga qualidade da relação de namoro?
Muitas vezes me deparo com casais que vivem relações afetivas atenciosas, são parceiros compreensivos, pais dedicados, provedores, profissionais competentes, mas que perderam o interesse pelo sexo, ou melhor, que deixaram de se ver e de olhar o outro como parceiro que desperta o interesse sexual. Esse quadro, infelizmente, é bastante freqüente. É estimado através de um estudo feito pela sexóloga Carmita Abdo, que 40% dos homens e 46% das mulheres ainda não conseguem viver uma vida sexual satisfatória e é interessante observar que esse é um receio freqüente na fala de jovens casais.
Por que será que isso acontece? Será que esse é um risco que todos (ou a maioria dos casais) correm?
Posso afirmar que esse distanciamento sexual vem de alguns ‘gatilhos emocionais’ que podem colocar muitas relações em risco se não houver um cuidado especial por parte dos casais. Esses ‘gatilhos’ podem estar relacionados a uma visão negativa da sexualidade adquirida durante a vida, recebidas durante a infância e adolescência no meio familiar, vindo de famílias praticamente assexuadas, onde pais e avós não se beijavam, pouco se abraçavam ou faziam qualquer demonstração de carinho publicamente, alimentando a idéia de que o respeito e a amizade eram o único ponto de união entre eles. É como se os pais e avós só devem ter feito sexo umas poucas vezes, quando jovens e para engravidar de seus filhos. Isso já traz em muitos casais a idéia da rotina e de que esse esfriamento sexual na vida dos casais realmente seja algo difícil de se evitar (e o pior: é um modelo a ser seguido)
Além desses fatores, há também outro fator que entra na monotonia na rotina sexual. Esse aspecto de perder o interesse em criar situações prazerosas após o casamento ou em namoros de longa duração, costuma ser uma queixa freqüente de casais que se tornaram amigos e perderam o tesão e o desejo de conquistar, inovar. Percebemos que muitos casais deixam de sair, de se arrumar, de investir em passeios prazerosos, de se cuidar. Há até aqueles que passam a ir dormir sem banho, deixam de fazer a barba ou de se depilar e maquiar, como se nada mais precisasse ser conquistado. Como já cantou Chico Buarque, ‘todo dia ela faz tudo sempre igual, me sacode as 6 horas da manhã, me sorri, um sorriso pontual e ….’, muitos homens e mulheres caem nessa rotina, como se a vida e o relacionamento tivessem perdido o pulsar do prazer de novas conquistas a cada dia.
Outro fator que tem peso muito grande são as mágoas acumuladas e essa lixeira emocional compromete a auto estima e tira o colorido das relações. Situações de pós traições, envelhecimento, insatisfação com o corpo e gravidez também podem contribuir negativamente.