Lembro-me de uma aula que tive na primeira especialização, onde a professora dizia que os casais tinham que cuidar para não deixar a relação deles parecida com a de seus próprios pais. Com a prática clínica, comecei a lidar tanto com isso que percebi como era forte essa influência, pois a grande maioria repetia os mesmos padrões da família de origem, sem ao menos perceber. Isso se retratava nos momentos onde ambos brigavam e um dizia para o outro: “Você está igualzinho ao seu pai” e “Você é a cópia da sua mãe!”
Duas dúvidas me inquietavam a mente: Por que a maioria dos casais que viam os pais errarem, repetiam os mesmos atos negativos? E o mais importante: Como sair desse ciclo, de forma que todos os casais possam viver bem?
Um dia consegui me responder isso sozinha.
Um casal só consegue se dá realmente bem, quando eles não desempenham nem a relação dos sogros, nem de seus próprios pais, mas sim, deles mesmos. Isso parece muito simples, mas é incrivelmente profundo se você parar para analisar. Isso deve ocorrer independente dos modelos serem bons ou ruins.
Lembro-me de um dia quando me casei, houve na noite em que meu marido e eu sentamos na sala, pegamos um papel e separamos em duas partes: Em uma delas nós escrevemos quais coisas boas nos queríamos “manter” da nossa família e na outra escrevemos as coisas nós queríamos “fazer diferente” dos nossos pais. Cada um escreveu sobre suas próprias famílias e eu mal tinha noção o quanto aquilo foi bom para construção da nossa vida a dois.
Conforme o casal define isso, eles criam uma identidade própria da relação, o que os faz se afinarem ainda mais e se darem melhor, pois se programam a escrever suas próprias histórias e não ficam reféns do passado.
Quando casamos, levamos para a nova vida uma bagagem contendo todos os valores, medos, crenças e idéias que aprendemos. Ao juntar um ao outro, essas bagagens são misturadas e abertas, o que influenciará diretamente na vida do casal. Quando o casal consegue se desprender dos defeitos da relação conjugal dos pais, eles estão atestando sua maturidade emocional e escolhendo viver uma vida diferente daquela já vista, independente se foi um bom ou mal exemplo.
Isso significa que não é porque alguns filhos viram seus pais falarem mal um do outro ou brigarem na frente deles que vocês vão achar isso normal e fazer o mesmo. Do mesmo modo que não é porque os pais passaram por uma separação conjugal que os filhos precisam repetir a mesma história, bem como não é porque não se via os pais ficarem juntos um do outro, que a pessoa vai achar que isso é natural.
É inegável a influencia exercida por esses modelos, mas cabe a cada pessoa um exame interno para tentar não se autoboicotar e repetir episódios semelhantes. Ignorar fatos ruins não resolve o problema, mas perceber que ela existe e lutar contra a repetição é uma forma sábia de conduzir sua própria vida.
Se você está lendo esta matéria e percebe que ela não se aplica a você, pois teve bons exemplos, então sinta-se privilegiado por ter vindo de uma família estruturada e lembre-se que tudo o que você está mostrando a seus filhos é o que eles tenderão a repetir no futuro. Tenham consciência deste legado!