Felicidade

É natural que todo casal passe por tempos juntos e tempos separados no dia a dia. Quando se revêm no final do dia ou mesmo num encontro, é importante reconhecerem que não estão reencontrando as mesmas pessoas que deixaram naquela manhã ou na semana anterior, mas podemos descobrir quem ela é “agora”.

Parece algo bobo, mas a pergunta “Como você está?” vem carregada de vários significados, dos quais precisamos explora-los mais do que se possa traduzir.

Grande parte dos casais descobre que às vezes passam semanas ou mesmo meses sem fazer essa pergunta com uma escuta honesta. Servir o jantar e um cálice de vinho em um dia habitual de segunda-feira, deveria ser uma prática constante dos casais equilibrados, sem que esta pergunta soasse como educação ou força do hábito.

Moldamos-nos a realidade que nos cerca pelo que optamos perceber. Se você estiver passeando de carro e estiver com fome, só irá perceber os restaurantes. Se estiver viajando com saudades dos filhos, só enxergará bebês e crianças por todo o lado. Assim funciona com os casais também. No que você quer prestar atenção em seu parceiro ou em seus filhos, isso começara a crescer.

Todo parceiro é ao mesmo tempo, belo e feio, dependendo de como o enxergamos. Cada criança é um gênio e infantil, dependendo do que você quer olhar.

Um romance para ser mantido satisfatoriamente, necessita ver constantemente o companheiro como um estranho… pois fazendo isso, conseguimos perceber suas micro modificações diárias… seus sentimentos e mapear suas emoções.

Se quiser, pode até comentar:

– “Uau, é maravilhoso conversar com você assim…Há tempos não fazemos isso!”

Será, então, bem provável que seu parceiro responda algo parecido, com:

– “Obrigado. É bom para mim também”

Desenvolva o hábito de reprogramar a vida de casal para esta maneira.

A verdade mais profunda, é que beleza e juventude soam irrelevantes. Envelhecer e alcançar um conhecimento mais pleno de si mesmo, finalmente nos deixa no ponto em que o amor é realmente possível. Fazendo isso, poderemos descobrir que tudo não termina com a chegada das primeiras linhas no rosto. Ao contrario, pode ser que com a idade tudo esteja apenas começando, pois é ali que conhecemos nossa própria força, capacidade e desenvolvemos uma flexibilidade quanto aos desafios da vida.

Quando alguém vê a felicidade entre um homem e uma mulher que ultrapassaram o estado de estarem apaixonados e já se encontram além da zona de guerra, verá neles a cumplicidade de um olhar calmo e tranqüilo. Por isso, mude sua forma de enxergar a pergunta mais simples do mundo “Como você está?” e explore-a com a profundidade do qual ela merece.

Ao longo de nossa vida passamos necessariamente por diversas perdas, sejam elas emocionais ou materiais e para sofrermos menos com esses momentos, é preciso compreender melhor a verdadeira causa da dor.

Toda dor da perda não advém absolutamente da perda em si, mas o que realmente causa dor dentro de nós é o nosso apego que temos em relação aquilo. Quanto mais apegados a algo, maior é o sofrimento, pois a dor da perda é proporcional ao tamanho do apego.

Todos nós temos apego em maior ou menor intensidade por algo, mas não podemos deixar com que esta seja a causa da nossa infelicidade. Se uma mãe é muito apegada aos objetos da sala de estar de uma casa, por exemplo, ela pode impedir que seus filhos possam usufruir do espaço necessário para brincar. Se uma pessoa for muito apegada a beleza e ao corpo, terá mais dificuldades de encarar a terceira idade onde a vaidade não é mais uma prioridade e isso é resultado do nosso apego.

Há aqueles que se apegam aos bens materiais e na eventualidade de sua perda ou destruição é como se perdessem a própria motivação de viver. Há também quem se apega desesperadamente a sua profissão ou status e qualquer sinal de perda nesta área, os deixam verdadeiramente deprimidos.

Mas o apego mais notável é aquele que se tem por alguém. Embora tão ou mais importante que os anteriores, com muita freqüência aquilo que tem a aparência de um grande amor é, na verdade, um disfarçado sentimento de apego e isso é lindo.

Há, no entanto, o apego bom e o apego ruim. O bom é aquele direcionado a alguém que você ama e o ruim é quando você transforma apego em posse. Apego que se iguala ao amor real (e não a posse) é aquele capaz de soltar, jamais de prender. Somente assim se estará verdadeiramente bem com o outro e se ele se for, a dor vêm mas a pessoa se recupera, porque o vazio foi ocupado pela certeza de um amor verdadeiramente vivido.

Mas isso não ocorre quando confundimos amor com possessividade. Alías, não é a toa que usamos tanto o pronome possessivo em nossas frases. Quem é dominado pela posse, tem dificuldade em entender o que é amar, além de interpretar qualquer atitude como desvalorização ou desinteresse. É claro que ninguém gosta de perder, mas quanto mais imaturo for a pessoa, mais tendência terá de construir relacionamentos baseado na posse.

É por isso que precisamos ser intensos no ato de amar e não perder tempo com pormenores. A posse é um sentimento egoísta que visa o bem estar próprio e não do outro e nem da relação.

E honestamente: Não dá para viver assim. Viver com o mal apego, sem a alegria estampada no rosto que é tudo o que mais merecemos e sermos enganados pelo egoísmo inútil de uma relação de posses.

Temos compromisso com a felicidade e quanto mais nos apegamos aquilo que é bom, menos tempo teremos para nos desapegar do que é ruim.

Certa vez, um casal estava saindo para jantar na casa de uns amigos. Na ida, ela sugere que ele vire na próxima rua à esquerda, mas o marido tem certeza absoluta que é pela direita. Ela resolve ficar quieta para não discutir. Nisso, ele vira na rua que não devia e percebendo que tinha se enganado, admite que errou (com dificuldade) e faz o retorno. Ela sorri e diz que não tinha problema deles chegarem uns minutos atrasados. Após um tempo, ele pára, pensa e diz: “Se você tinha tanta certeza de que eu estava indo para o caminho errado, porque não insistiu um pouco mais?” A esposa, sabiamente respondeu: “Entre ter razão e ser feliz… eu prefiro ser feliz!”

Baseado nessa história, muitos casais não percebem que perdem tempo demais focalizados em “ter razão” e investem poucos momentos naquilo que realmente faz a relação dar certo. Esta foi a confirmação de John Gottman, um matemático que estudou relacionamento afetivo pelo período de três décadas.

Isso não quer dizer que devemos fingir que o problema não existe, mas ao contrário de tudo que já foi comprovado até então, quando o casal se mobiliza a pensar nos pontos positivos da relação, isso os dá mais entusiasmo para lidar com as tempestades da vida.

Não há problema que resista a um casal que se fortalece junto. Quer um exemplo? Quando você alimenta a curiosidade em saber como foi o dia de seu cônjuge ou se propõe a relembrar os momentos gostosos que passaram juntos, estes são apenas alguns dos remédios capazes de curar qualquer mal-estar da vida a dois. Se juntamente a isso, você busca ressaltar as qualidades dele (a) e investe tempo para se divertirem juntos (nem que seja dentro de casa), aí sim, afirmo-lhes que essa é a grande bússola capaz de mudar até o mais fracassado dos relacionamentos.

Um casal feliz não se mede pela ausência de discussões, mas pela maneira como cada um se trata quando tudo está indo bem. Se você olhar para seu passado, verá que ambos já enfrentaram tantas situações desafiadoras juntos, que não é justo anular o quanto já foram vitoriosos.

A maioria das brigas conjugais ocorre como um pedido de aproximação. Se você discute com seu marido porque ele trabalha demais, é porque implicitamente você quer que ele a valorize mais do que seus afazeres. Se ele implica que você só dá atenção aos filhos, é porque ele deseja que você de mais atenção a ele, pois também quer se sentir paparicado e reconhecido. Não há quem não deseja sentir-se amado (a), compreendido (a) e aceito. Gostamos que o outro saiba do que se passa no nosso universo interno e isso nos faz sentir valorizados.

Preste atenção em algo: Não há fatos eternos, assim como não há verdades absolutas. Os motivos pelos quais vocês brigam hoje pode parecer minúsculo daqui a dez anos, porque você vai estar com outra cabeça e certamente mais amadurecido (a). Se você se concentrar nos defeitos dele (a), nunca irá participar da vida, pois irá se contentar com as suas verdades e com a sua miopia.

A paz de um casal custa cara demais para entregarmos aos problemas. Por isso, cabe a pergunta: “Você quer estar certo ou ser feliz?”

Você já sabe que homens e mulheres são diferentes e isso talvez justifique algumas discussões. Também já leu vários livros sobre o assunto e chegou a conclusão que a comunicação é o melhor caminho para viver bons momentos, sendo que isso basta para que tudo lhe vá bem, certo? Errado.

É verdadeiro a afirmativa que todos querem ser felizes na área afetiva e que todo conhecimento pode ajudar, mas não lhe oferece a garantia de se livrar de problemas conjugais. De fato, alguns casais já aprenderam que conversar ajuda amenizar as dores emocionais, mas o que muitos não perceberam, é que podem ser escravos de uma armadilha onde só ficam unidos quando tem algum problema ou alguma dor para resolver. No momento em que tudo vai bem, ambos se distanciam, cada um vai para o seu mundo e só quando aparece outro problema, ambos se unem novamente.

Imagine como se cada casal tivesse sua própria dança. Uns tem seu relacionamento parecido com uma valsa, onde a leveza e o companheirismo são as características chaves da relação. Outros tem seu relacionamento similar ao tango, onde o que os une é a sensualidade e os picos súbitos de paixão. Há outros ainda, que se assemelham com uma lambada, onde a prioridade é curtir a vida, aproveitar os momentos felizes e só viver de festa.

Obviamente que um pouquinho de todos, resulta em uma ótima receita, mas quando você mistura no liquidificador doses cavalares de companheirismo e amor, com boas pitadas de sensualidade e duas colheres bem cheias de diversão, aí sim, vocês estão bem. Se acrescentar a isso uma música lenta para curtir doses extras de carinho, o que mais você quer da vida?

Casais que se unem pela dor, infelizmente não percebem que dançam moda sertaneja. A música pode ser uma delícia enquanto o casal se concentra nos “dois pra lá” e “um pra cá”. Neste momento, ambos estão unidos e compenetrados, mas quando já fizeram o que tinha que fazer, cada um passa a seguir seus próprios passos.

Quer exemplos da vida prática? Casais com este perfil não percebem que a briga é o fator que mais os une. Parece loucura, mas é verdade. Se não fosse elas, a relação não sobreviveria (o que é uma pena).

São casais que passam a maior parte do tempo empenhados em resolver problemas, sendo de ordem conjugal, uma doença, um problema de família e por aí vai. Nesta hora um auxilia ao outro, mas quando tudo começa a ficar bem, ambos se afastam… até que outro problema os una outra vez. Nesses casos, o lema de vida é: “Até que a felicidade nos separe!”

Mas Karine, e se eu quero dançar valsa e meu cônjuge sertanejo? Eu sempre quero paz e ele(a) vive querendo briga?

Sinto informar, mas não há como isso acontecer. Todos os casais (sem nenhuma exceção) vivem inconscientemente os mesmos compassos de uma dança. O maior problema não está no casal (nele ou nela), mas sim na forma como eles se relacionam.

Por que isso acontece? Porque vieram de famílias onde os próprios pais tinham relacionamento conturbado e mal resolvido (implícito ou explicitamente).

O que acontece com um casal que tem esse padrão? Geralmente eles tem filhos com problemas. Filhos são radares e detectam esse padrão inconscientemente.

Não deixe que a felicidade seja um real empecilho para vocês serem felizes! A felicidade deve ser uma constante, não uma raridade.

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