Estações necessárias

No início de junho, enquanto levava minha filha na escola, passava pelas ruas observando as árvores (coisa que eu nunca fazia) e pensava se a previsão para este ano seria de muito (ou pouco) frio, pois elas estavam vistosas e cheias de vida.

Mesmo que desejasse conscientemente que elas continuassem a florescer, dentro de mim surgiu uma leve sensação de desconforto por saber que a próxima estação seria o inverno e este obrigaria que as folhas caíssem e aparentemente secassem. Por certo, não me refiro única e exclusivamente as árvores, mas por ser um ser vivo, transfiro esta sensação a “nós mesmos” ao entender que somos obrigados a passar por todas as estações naturais da vida.

Não demorou muito, a chuva começou. Uma semana não bastou e quando estávamos quase três semanas sem ver um raio de sol pelas ruas da cidade, eis que o inverno veio para dar o ar da graça. Alguns dizem que é um charme, outros reclamam porque não podem sair de casa, mas independente de qual seja o prisma, o inverno é necessário, porque é através dele que uma planta se fortalece.

Se fosse substituir nomes, eu diria que o inverno seriam as tristezas, o raio de sol seria a esperança e as chuvas seriam os intervalos.

E se neste ano não fizesse tanto frio? E se pudéssemos pular uma estação, sem que seja necessário este processo de mutação? E se aquele raio de sol ficasse constantemente sem que houvesse necessidade de intervalo?

A resposta certa seria: “Não dá! Simplesmente não dá!”

O ser humano precisa muito mais do que ter a falsa sensação de viver um eterno verão ilusório. O inverno é importante porque ele permite a auto reforma e você não pode sequer passar um inverno sem que tenha se dado ao luxo de se revisar.

Imagine que você é uma árvore e que cada folha sua, são suas próprias convicções. É impossível que você queira ficar carregando milhares delas, sem que você escolha qual deseja que caia e qual deseja que permaneça. Eu posso melhorar como esposa(o)? Devo ser diferente como mãe(pai)? Posso ser 10% melhor como chefe ou como empregado? E como pessoa, será que posso ser um pouco mais paciente e menos temperamental?

Só fui entender o verdadeiro propósito da tristeza na vida quando li uma história a respeito de semente. Para que ela produza, antes é necessário que ela morra para si mesmo, pois a morte de seu ego faz com que ela abandone sua casca e com isso, produza a “cotiledone”. Esta se agarra na terra, iniciando assim, o despertar de sua raiz.

Assim como nós, as estações são necessárias para que o morrer para nós mesmos, represente renovo do dia de amanhã. É preciso ser “podado” para que possamos produzir ainda mais frutos. E se olharmos a íntima ligação da tristeza em relação a força estranha de produzir novos frutos, não iremos mais nos perguntar se podemos pular estações.

Nós simplesmente estaremos abertos e vigilantes para que quando o “inverno” chegar, o renovo seja completo.

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